sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Mineiros de cobre soterrados e bóia-frias no canavial: um paralelo triste e real

A situação dos mineiros presos a centenas de metros abaixo da terra no Chile nos remeteu a um triste paralelo que ocorre no Brasil.

Antes que você, caro leitor, estranhe minha observação, deixe-me colocá-lo a par dos fatos.A empresa mineradora de cobre para quem os mineiros trabalham alegou que não tem como continuar pagando o salário dos 33 homens enquanto estiverem presos, obrigando as familias que dependem desse ganha pão a viverem de doações de ONGs.

É isso mesmo, leitor.A bilionária empresa mineradora alega que não tem como pagar o salário de 33 mineradores que estão soterrados e que lá permanecerão por , pelo menos, 3 meses e isso é visto com a maior naturalidade pelos chilenos, a ponto de se mobilizarem dando donativos, ao invés disso gerar um clamor público pedindo maior responsabilidade por parte da mineradora.

Não é preciso ser muito perspicaz para percebermos o absurdo da situação e o óbvio paralelo a que ele nos remete: a degradante situação dos bóias-fria que por décadas (ou séculos) formou a base produtiva da monocultura açucareira e cuja situação pouco mudou com o pró-alcool e com a destacada posição que nosso etanol ganhou no mercado mundial na última década.

Assim como os mineiros soterrados no Chile, nossos bóias frias pouco diferem deles na forma como são (mal) tratados e (des)valorizados.

Curiosamente, tanto no mercado de cobre como no mercado do etanol. os compradores desses produtos estão se lixando para as condições sociais impostas aos trabalhadores dos quais dependem e não fazem a mínima questão de que haja qualquer indicador social que diferencie o cobre, ou o etanol, desta ou daquela empresa que seja mais sócio-responsável.

Enquanto os compradores da cadeia produtiva não se sensibilizarem e criarem demandas sociais aos produtores, a exemplo do que começa a ocorrer com as fazendas de gado que desmatam reservas florestais, tudo permanecerá como dantes na terra de abrantes.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Sobre como uma abertura de mercado pode causar uma revolução

Um interessante caso está acontecendo na remota e paradisiaca ilha de Fiji, no Pacifico Sul.

Um resort, conhecido por abrigar duas das melhoras localidades para a prática de surf no mundo, mas também conhecido por ser o mais caro surf resort do mundo teve sua licença de exclusividade revogada após mais de uma década

O resort pertencente a americanos e australianos impedia que qualquer barco se aproximasse dessas preciosas onda. Até mesmo os nativos de Fiji eram impedidos de ter acesso à essas ondas, a não ser por um período de 3 horas por semana nas manhãs de sábado.Uma esmola, praticamente.

Há 2 anos atrás, o recém empossado presidente foi ao resort prestigiar a abertura de uma etapa do circuito mundial de surfe a ser realizado naquele local. Ao se deparar com apenas 1 competidor fijiano na competição, o presidente tomou conhecimento do dominio territorial e exclusivista que o resort realizava com os próprios fijianos.

O resort alega que parte do lucro é revertido para as comunidades locais, segundo acordo, como forma de compensar o apartheid desportivo e que esse direito de propriedade sobre os corais obedece uma antiga tradição local, o que de fato é verdade, mas não deveria incluir as ondas.

Diante do óbvio fato de que essa reserva de mercado impedia o crescimento de um próspero mercado de pacotes turisticos que poderiam gerar mais emprego e fomentar a economia, o presidente conseguiu acabar com essa reserva de mercado o que óbviamente gerou aplausos de muitos e descontentamento de poucos.

Num mundo de economias cada vez mais liberais e ávidas em gerar superavits em seus caixas, o caso de Fiji demonstra como uma combinação de necessidade financeira e descontentamento com o apartheid podem servir de estopim para mudanças de porte.